Como Usar
Como as medidas de desempenho operacional são mais ou menos óbvias, nesta seção nos restringiremos a entrar em maiores detalhes apenas sobre o sistema de Análise DuPont.
O sistema de Análise DuPont permite uma visão rápida dos principais componentes do Retorno sobre o Patrimônio Líquido (RPL ou ROE, do termo em inglês Return on Equity) de uma empresa , através da sua subdivisão em itens, que podem ser analisados separadamente. Neste site atualmente temos as informações para fazer a análise do RPL em 2 ou 3 componentes, de acordo com as fórmulas abaixo:
2 componentes: Alavancagem Financeira (AF) e Retorno sobre o Ativo (RA)
RPL = AF x RA (*2)
3 componentes: Alavancagem Financeira (AF), Giro do Ativo (GA), e Margem Líquida (ML)
RPL = AF x GA x ML (*3)
(*2) Dado que AT = Ativo Total; PL = Patrimônio Líquido; LL = Lucro Líquido; RL = Receita Líquida, AF = AT / PL ; RA = LL / AT –> AF x RA = (AT / PL) x (LL / AT) = LL / PL = RPL.
(*3) Dado que AT = Ativo Total; PL = Patrimônio Líquido; LL = Lucro Líquido; RL = Receita Líquida, AF = AT / PL ; GA = RL / AT ; ML = LL / RL –> AF x GA x ML = (AT / PL) x (RL / AT) x (LL / RL) = LL / PL = RPL.
A divisão em 3 componentes pode ser vista como simplesmente igual à divisão em 2 componentes , mas separando o Retorno sobre o Ativo em dois componentes fundamentais: o Giro do Ativo e a Margem Líquida.
Retorno sobre o Patrimônio Líquido
O Retorno sobre o Patrimônio Líquido é uma medida muito importante para o investidor, porque indica o quanto aquela empresa consegue gerar de lucro para cada unidade de “investimento” no seu patrimônio líquido. Ou seja, quanto maior esse retorno melhor, se as outras condições foram mantidas constantes. Uma maneira simples, e talvez mais intuitiva, de pensar no RPL é pensar como se o investimento fosse em renda fixa, em vez de renda variável . SE o RPL histórico de uma empresa se mantiver constante no futuro e SE o preço da ação refletir completamente o comportamento do seu lucro líquido e SE o preço da ação relativo ao seu lucro líquido se mantiver constante (grandes “SEs”, mas lembrem-se que neste momento estamos apenas fazendo um simplificação para tornar o conceito mais intuitivo), então investir numa ação de uma empresa com um RPL de 30% a.a. será melhor do que investir numa ação de uma empresa com um RPL de 20% a.a. e também será melhor do que investir em um instrumento de renda fixa rendendo 15% a.a.
Lembrando que estamos sempre obviamente olhando para dados históricos nas informações exibidas neste site, o que queremos ter certeza quando analisamos uma empresa é que o RPL será alto no futuro. Nesse aspecto a decomposição do RPL histórico pode ajudar a análise daquela empresa específica de duas maneiras diferentes: - RPL histórico baixo: dadas as características históricas que levaram aquela empresa a ter um RPL baixo, está em curso alguma mudança na empresa ou no seu mercado de atuação que nos leve a acreditar que algum dos componentes do RPL irá mudar no futuro dentro do nosso horizonte de investimento de maneira a aumentar o valor do RPL? - RPL histórico alto: dadas as características históricas que levaram o RPL a ter um patamar elevado, as condições futuras da empresa ou do seu mercado de atuação são tais que permitirão que o RPL permaneça num patamar elevado pelo nosso horizonte de investimento?
Outra maneira de olhar a evolução do RPL e dos seus componentes é fazendo uma comparação entre duas ou mais empresas, de preferência que atuem no mesmo setor. Dessa maneira podemos verificar se o RPL de uma empresa está de acordo com o se esperaria para o seu setor de atuação, e, se não está, quais são as causas principais dessa disparidade.
A decomposição do RPL em seus componentes nos permite analisar melhor quão bem sucedida (ou não) é a gestão da empresa em pontos extremamente importantes.
Margem Líquida
A Margem Líquida fornece uma medida da lucratividade da empresa, e portanto é um índice que sempre é preferível que seja maior e crescente. Ela nos dá uma idéia do percentual da receita líquida que “sobra” depois que todos os custos da operação são pagos.
Uma empresa que está aumentando a sua margem líquida muito provavelmente está conseguindo cobrar mais por cada produto/serviço que vende, gastar menos para produzir o que vende, aumentar o nível geral de eficiência da sua operação mesmo nos itens não relacionados diretamente à produção do que é vendido (na administração central, ou na gestão do investimento do caixa excedente ou financiamento do capital necessário, por exemplo), ou eliminar linhas de negócio pouco ou nada lucrativas caso seja uma empresa multiproduto/multiserviço.
Todas essas são notícias positivas para o acionista, dado que indicam que o produto/serviço produzido tem uma demanda crescente e provavelmente um diferencial em relação à concorrência, que a gestão da empresa se importa em gerenciar eficientemente os seus custos fixos, e que, se a empresa possui várias linhas de produtos/serviços diferentes, está gerenciando cada uma em separado para confirmar que todas elas se sustentam “por suas próprias pernas”. O inverso também é verdade e portanto margens decrescentes e/ou baixas precisam ser analisadas com cuidado.
O patamar da margem líquida (alto, baixo) também pode nos dar uma indicação do nível de competição no setor de atuação daquela empresa. Margens altas são mais comuns em setores com pouca competição, em empresas que detêm algum tipo de diferencial importante em relação à concorrência, e portanto tem o poder de precificar bem os seus produtos/serviços para terem uma boa margem.
Giro do Ativo
O Giro do Ativo fornece uma medida da eficiência na gestão dos ativos da empresa, e portanto é um índice que também é preferível que seja maior e crescente.
Uma empresa que está aumentando o seu giro está usando os seus ativos com mais eficiência, ou seja está usando os mesmos ativos que tinha para produzir mais vendas do que antes, ou, equivalentemente, está usando menos ativos para produzir o mesmo nível de vendas. Essas são boas notícias para o acionista na medida em que menos capital da empresa precisa estar “preso” em ativos para produzir o mesmo patamar de vendas. Esse é o caso, por exemplo, de um varejista que implementa processos/sistemas para fazer uma melhor gestão de estoque, permitindo que tenha um estoque menor para atender as mesmas vendas que tinha antes. Nesse caso ele tem a opção de usar o capital que “sobra” para aumentar o nível de vendas (se existir demanda para tal), ou de devolver ao acionista na forma de dividendos maiores na próxima distribuição, por exemplo.
Cabe lembrar que do ponto de vista do acionista, um giro alto não implica necessariamente em um retorno alto, assim como uma margem líquida alta, isoladamente, também não. Do ponto de vista do acionista, o que interessa é a combinação dos dois efeitos, juntamente com a alavancagem financeira (descrita em mais detalhes no próximo item), de maneira que o Retorno sobre o Patrimônio Líquido seja alto, ou alto o suficiente. É muito comum negócios que tem o giro do ativo alto terem a margem líquida baixa e vice versa. Por exemplo, negócios que tem um diferencial competitivo por apresentarem um custo de entrada no negócio muito alto (“barreira de entrada”), costumam ter a margem líquida alta em vista do seu posicionamento competitivo, mas ao preço de terem muitos ativos “presos” no negócio e portanto um giro do ativo baixo.
O produto do Giro do Ativo com a Margem Líquida fornece o Retorno sobre o Ativo de uma empresa, e como concluímos individualmente da análise de cada um, é melhor que seja maior e crescente.
Alavancagem Financeira
A Alavancagem Financeira nos dá uma medida do nível de endividamento usado pela empresa, e portanto, diferentemente dos outros 2 índices anteriores, apesar de aumentar o RPL, não é um índice que sempre preferiremos que seja maior e crescente. Ao mesmo tempo não é necessário que o nível de dívida seja zero.
Conforme pode se comprovar pela fórmula do Retorno sobre o Patrimônio Líquido, quanto maior for a Alavancagem Financeira, maior será o RPL. Isso seria sempre verdade se um efeito contrário não ocorresse. Cada vez que o nível de dívida aumenta, o risco do negócio também aumenta. Isso porque uma empresa com mais dívida primeiramente aumenta o seu custo financeiro, que é basicamente um custo fixo. Adicionalmente isso torna a empresa mais vulnerável em períodos de desempenho abaixo do esperado, e, portanto aumenta a chance de a empresa chegar a falência ou liquidação. No limite, se a empresa passar por muitas dificuldades e precisar ser liquidada, um valor maior precisará ir para os credores (que emprestaram dinheiro para a empresa), antes que qualquer capital possa começar a ser restituído aos acionistas. Uma empresa com alavancagem financeira baixa sempre será menos arriscada do que uma empresa com alavancagem financeira alta, mantidos constantes os outros fatores de análise.
Por essas características, empresas muito cíclicas (mais sujeitas ao ciclo econômico em geral, ou seja que vendem muito menos numa recessão econômica por exemplo) normalmente têm alavancagem menor do que empresas pouco cíclicas.
Portanto, do ponto de vista de gestão da empresa, sempre é interessante observar se o RPL não está sendo mantido alto ou crescente de maneira “artificial” por um aumento excessivo da sua alavancagem financeira. Se usada de maneira equilibrada e prudente a alavancagem financeira pode melhorar o RPL, sem aumentar consideravelmente o risco do acionista.